por baixo ou por cima
dos arabescos dos jiraus a vida pulsava.
da terra, rica em toda
a sua extensão, brotavam abundantemente taiobas, pés-de-milho e robustas
couves.
os limões reverdeciam
no seu segredo
e as mangas como corações pendentes expunham as bagas de sua
alma,
suas vísceras líricas.
as rosas como constelações, os pés de funcho e
a monumental moita de hortelã.
tudo o que apodrecera desde as chuvas de
setembro
agora era uma nova e outra coisa em um canto do jardim.
fazia muito calor nesta hora de meio de tarde.
sob o sol escaldante dois
meninos de bicicleta atravessam uma rua.
a cidade na confluência
de dois morros é agora um cisco no olho de quem vê.
josé está sentado debaixo da ameixeira grande.
o vento faz baterem os
bambus da densa moita que o homem plantou quando mudou para cá há mais de trinta
anos.
sentado em seu banquinho
de madeira, quase de cócoras, josé corta os bambus a partir dos nós. racha-os
setentrionalmente
e vai batendo os nós com um martelo, transformando a matéria
rígida em longos e flexíveis fios de bambu rachado.
do seu lado esquerdo
estão tombados dois outros balaios já prontos.
pára um pouco.
fuma.
a
fumaça do cigarro de palha esvoaça por entre os vãos das árvores vazadas pela
luz do sol.
constelações
inteiras se desfazem na claridade.
a
obscuridade do tabaco queimado revela as mariposas do dia, moscas ardentes,
mamangavas negras.
bandos
de maritacas atravessam estrondosos sobre as árvores.
josé
estende no chão os filetes de bambu cortado formando um desenho rústico, forte,
seco.
desenho de intensa beleza.
desenho que desfaz
muito antes de esboçar algo. um estado de suspensão.
nuvem névoa.
entrecruza os desenhos,
as riscas dos balaios ainda a serem.
cria uma trama.
o atrito das forças vai ficando mais denso e
visível.
um homem entrançando a matéria vegetal, tirando
o projeto do plano e trazendo o balaio ao mundo, à forma, à tatibilidade.
balaio que vai agora acolher o milho, ser quentura onde chocarem as galinhas, tornar-se abrigo, casa e
calor.
estrondam como obscuras estrelas cadentes as mangas despencadas.
estrondam como obscuras estrelas cadentes as mangas despencadas.
rolam para perto dos balaios prontos.
passos leves se aproximam.
pés de criança, ruídos
finos, como os pequenos bichos em sua ronda.
as folhas secas da
ameixeira estalam ao serem pisadas.
- Pai?
(estende-se-lhe um cálice)
. . .
tempo de antes e tempo
de após.
. .
e o dia transfigurou-se
em todos os arredores.
.
tarde
noite
manhã
fino!
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